A TRISTE SINA DA TERRA DAS PINDORAMAS

30/11/2015 21:23


A
TRISTE SINA DA TERRA DAS PINDORAMAS

No
século XVI, a Europa Ocidental vivia a plenitude das Grandes Navegações e
consolidava-se o Capitalismo Comercial, que se expandiu para outros continentes
no decorrer dos anos.

A
Divisão Internacional do Trabalho (DIT) - característica do sistema capitalista
-   ditava que as colônias deveriam fornecer às
Metrópoles produtos primários, trabalho escravo e especiarias. Por sua vez, as
Metrópoles (países ricos) produziriam e exportariam produtos manufaturados.

Em
1500 há o descobrimento do Brasil. Pela sua extensão territorial e diversidade
ambiental viria a ser um grande fornecedor de matérias-primas para os países
ricos.

A
primeira matéria-prima  explorada e
exportada para Portugal foi o pau-brasil. Madeira de grande valor da qual se
extraia um corante para tingir tecidos. Foram retiradas milhares dessa árvore
do litoral brasileiro e embarcadas para a Metrópole (estima-se em 2 milhões).
Começa aí a devastação da Mata Atlântica.

Continuando
a sina de fornecedor de produtos primários de exportação para os países ricos,
vieram a cana-de-açúcar e o café. Estava decretada a agonia terminal da Mata
Atlântica!

Surgiram
as Entradas e Bandeiras. Com elas ocorreram o aprisionamento dos índios e a
descoberta de ouro, prata e pedras preciosas, principalmente esmeraldas e
diamantes. Saíram naus abarrotadas desses minérios para Portugal. Iniciou-se
então a depredação de rios, do solo e subsolo do Brasil, principalmente em
Minas Gerais.

Veio
o Capitalismo Industrial a partir do século XVII, o Brasil tornou-se
independente de Portugal em 1822, mas continuou sua sina de fornecedor de
produtos primários. A  produção
brasileira mantinha-se organizada em função do mercado internacional comandado
pela Inglaterra e não das necessidades da maioria da população brasileira. O
modelo econômico da época colonial permaneceu intacto: produção agrária,
monocultura, escravista e exportadora. E a Inglaterra - a maior potência da
época - necessitava de muita matéria-prima para vender seus produtos
industrializados, inclusive para o Brasil. Aumentava a devastação do meio
ambiente para atender aos países ricos com produtos primários.

Com
o passar dos anos, a partir do século XX, a Terra das Pindoramas - apesar de
ter se industrializado - especializou-se de vez em suprir os países ricos em
matérias-primas, agora chamadas de commodities, cumprindo à risca seu papel na
Divisão Internacional do Trabalho, já no Capitalismo Financeiro.

O
Brasil tornou-se o celeiro do mundo, batendo recordes anuais de produção de
soja, milho, carne, frutas, etc. Mas para isso, devastou os campos do Sul, o
que ainda restava da Mata Atlântica no Sudeste, a caatinga do Nordeste, o
cerrado do Centro-Oeste e no Norte parte da Floresta Amazônica.

Somos
também um dos maiores exportadores de minérios, principalmente ferro, manganês,
bauxita e nióbio. Só de ferro, são retiradas e  235 toneladas/ano do nosso subsolo,
especialmente em Minas Gerais e no Pará. Extensas áreas, verdadeiras crateras e
morros naturais são consumidos por máquinas e enviados para países suprirem o
consumo exacerbado de suas populações. E o meio ambiente cada vez mais
degradado aqui no Brasil.

A
ganância dos agropecuaristas e dos mineradores não tem limites. Visando o lucro
cada vez maior, eles não têm a mínima preocupação com as consequências  de degradarem os rios, os mares, a vegetação,
o solo e o subsolo do país.

No
último dia 5, no município mineiro de Mariana, tivemos um exemplo da ambição e
do descaso desses empresários e de autoridades governamentais:  duas barragens da mineradora Samaco romperam e
despejaram 62 milhões de m³ de  rejeitos
de mineração para exportação, soterrando com lama o distrito de Bento
Rodrigues. Foi desabrigada toda a população, em torno de 650 pessoas, são 15 os
desaparecidos e até o momento 8 mortes. A lama fétida tomou conta dos rios da
bacia hidrográfica do rio Doce - um dos maiores dos estados mineiro e capixaba,
deixando de fornecer  água potável a
diversas cidades, matando milhões de peixes, destruindo quilômetros de matas
ciliares, tornando o solo impróprio para lavoura. Foi o maior desastre
ecológico dos últimos tempos no Brasil.  

Entendo
que já tempo de se repensar esse papel de país exportador de matérias-primas,
antes que sejam exauridas todas nossas reservas e a natureza sucumba de vez à
ganância. Para isso, torna-se necessário investir maciçamente em educação e
tecnologia de ponta.

Luís Leite, novembro de 2015.