O DESCOBRIMENTO DA TERRA DE VERA CRUZ
O DESCOBRIMENTO DA TERRA DE VERA
CRUZ
A expansão marítima europeia dos
séculos XV e XVI foi consequência da necessidade de encontrar novos mercados
fornecedores. A nação pioneira nesse processo foi Portugal. Tendo como marco
inicial a Conquista de Ceuta (1415), os lusitanos prosseguiram sua expansão
contornando a África e chegando às Índias. Em 1500, as primeiras esquadras
portuguesas chegaram ao Brasil. Afastaram-se da costa africana em direção a
oeste, alegando terem se desviado da rota em virtude das calmarias. A chegada
ao Brasil, intencional ou não, está inserida no contexto da expansão da
burguesia portuguesa em busca de novos mercados fornecedores.
Começava aí a vocação do Brasil de
eterno fornecedor de matérias-primas para os países europeus.
Abaixo, um trecho da carta do
escrivão das armadas de Pedro Álvares Cabral ao rei D. Manuel, escrita em 1º de
maio de 1500 por Pero Vaz de Caminha, narrando o descobrimento do Brasil.
"E assim seguimos nosso caminho por
este mar, de longo, até que, terça feira das Oitavas da Páscoa, que foram 21 de
Abril, estando da dita ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos
diziam, topámos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas
compridas, a que os mercantes chamam botelho, assim como outras a que dão o
nome de rabo de asno. E quarta feira seguinte, pela manhã, topámos aves a que
chamam fura-buchos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra!
Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais
baixas ao sul dele, e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o
capitão pôs nome - o Monte Pascoal, e à terra - a Terra de Vera Cruz."
Parte da descrição da terra
descoberta, também trecho da carta:
"De ponta a ponta, é tudo
praia...muito chã e muito formosa. (...) Nela, até agora, não pudemos saber que
haja ouro nem prata... porém a terra em si é de muitos bons ares, assim frios e
temperados... Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa, que
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Porém o
melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E
esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar."
A preocupação maior dos portugueses é
se haveria ouro e prata nas novas terras e catequizar seus habitantes com a fé
cristã.
Olhe como Caminha descreve os habitantes
da terra descoberta:
"A feição deles é serem pardos,
maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus,
sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas
vergonhas e nisso têm tanta inocência como têm em mostrar o rosto.
Ali andavam entre eles três ou quatro
moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas
espáduas, e suas vergonhas tão altas e tão saradinhas e tão limpas das cabeleiras
que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha."
A partir daquele momento, as maldades que nossos
descobridores vieram a praticar contra o Brasil e seus habitantes primitivos
foram desde a exploração do pau-brasil, do ouro e da prata à tentativa de
escravizar os indígenas, matando-os até quase extinção e roubando-os de sua
cultura.
Luís Leite,
fevereiro de 2015.